terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sexualidade: ainda tem quem não fale dela


Por Drª Jaqueline Pinto*

No mundo de hoje, moderno por excelência, a informação está por toda a parte. Mas algo que mexe com nossas vidas e que faz parte de nosso cotidiano, ainda é tabu: a sexualidade. Excetuando-se a banalidade que perpetua na internet e outras vias de comunicação, quando o assunto é sério muitos profissionais ainda relutam em abordar o tema. E pior: ainda há quem na área de saúde e/ou educação não esteja preparado para um encontro com a sexualidade.

Em geral os profissionais de saúde -  e também os da educação - têm uma lacuna em seus currículos no que diz respeito a sexualidade. Na verdade o assunto sequer faz parte das grades curriculares do ensino superior, salvo raríssimas exceções.

Nas últimas décadas os profissionais de saúde viveram seus maiores desafios frente a sexualidade: a prevenção da AIDS e da gravidez não planejada, bem como a aquisição e/ou manutenção de uma saúde sexual. Mesmo assim, muitos profissionais ainda não se vêem preparados para receber a queixa sexual de seus pacientes, caminho comum nesse tipo de questão. Para a maioria das pessoas, falar de sexualidade remete imediatamente ao ato sexual e à reprodução. Mas a sexualidade é muito mais abrangente. Avanços vêm ocorrendo, abrindo espaço para discussão da “sexualidade humana”.

Pode-se dizer que, muitas vezes, a porta de entrada para as queixas sexuais de mulheres é o médico ginecologista. E isso vale para o homem também, pois a queixa masculina também é feita de forma indireta pela parceira. Porém o médico sem preparo adequado para abordar o tema não acolhe a queixa da paciente. A abordagem sexual pode e deve ser de interesse de várias áreas e, que cada profissional tenha a possibilidade de buscar conhecimentos para a sua atuação. Por isso buscar uma especialização que oferece uma abordagem necessária como da terapia sexual, ao profissional médico ou psicólogo, pode melhorar sobremaneira o manejo frente a queixa sexual crescente nos consultórios.

As dificuldades em lidar com a sexualidade têm afetado também muitos profissionais da área da educação. A educação sexual no Brasil tem sido discutida desde o início do século XX e ainda é foco de discussão, pois não foi assimilada no cotidiano das instituições como a escola e a família.

No curso de Pós-Graduação em Sexualidade da FAMERP nos deparamos com situações muito curiosas a respeito da sexualidade nas escolas. É comum o assunto fazer parte da realidade de crianças e adolescentes. Bastam ver as brincadeiras, as conversas no recreio, os rabiscos nas portas de banheiro e nas carteiras, o “ficar”... é uma realidade que não pode ser negada. A sexualidade nunca foi tão explicitada, estampada.

O ser humano é sexual e precisa trabalhar suas dificuldades. Porém, pais e educadores não estão preparados para lidar com o tema. Ou punem erroneamente, sem explicação, ou fingem que não viram ou ouviram a questão em sala de aula. "Até onde eu posso falar? Estou incentivando? Máquina de camisinha?". Faz-se necessário um preparo adequado para acolher estas questões, já que em sua formação, independente do curso, não recebe a oportunidade deste estudo. No contexto escolar encontra-se um espaço favorável para abordar a temática com os alunos, erradicando mitos e tabus impostos pela sociedade e pouco discutidos no âmbito familiar.

É emergente a necessidade da abertura de espaços para que se discuta a sexualidade sem medos, pois é algo do qual não se pode omitir. A especialização na área é importante para que profissionais recebam instrumentos que os capacitem frente ao desafio de educar sexualmente.

* Drª Jaqueline Pinto é coordenadora do curso de pós-graduação em sexualidade da Famerp